Lano Kaj Neĝo * debruça-se sobre a obra de Ferreira de Castro “A Lã e a Neve”, um símbolo para a identidade social e cultural da região da Beira Interior, para além de ser uma referência da literatura nacional. Interessou-me encontrar um veículo que servisse por um lado o contexto local e ao mesmo tempo projectasse as questões e anseios da nossa humanidade. A peça acompanha o percurso de Horácio, de pastor em Manteigas ansiando um dia reunir as condições financeiras para poder ter a casa que sonha para viver com a sua família, até se tornar tecelão numa fábrica na Covilhã e confrontar-se com a dura realidade do operariado. Enquadrada nos anos 40 do séc. XX, durante o período da Segunda Guerra Mundial e com a ditadura em Portugal como pano de fundo, olha-se para a serra isolada e para as condições precárias em que vivem aqueles serranos, e olha-se para o auge do mundo industrial e têxtil na Covilhã onde o trabalho se torna uma reivindicação social importante. Ferreira de Castro coloca-nos perante a busca incessante dos homens e das mulheres por melhores condições de vida, esperando que um dia chegue esse tal “mundo novo” a que todos aspiram.
*A Lã e a Neve, na língua esperanto. O esperanto é referido na obra, através de um personagem emblemático e fulcral para a narrativa, Marreta, que representa a busca dos ideais progressistas que Ferreira Castro subliminarmente insere. O esperanto é uma língua artificial criada como uma tentativa de projectar uma língua universal.