“Só o corpo é capaz de saltar por cima da diferença conservando a diferença”
José Gil
Terra Indígena Sete de Setembro. Olhando para o mapa, que se trata de uma fotografia de satélite, podemos observar a crematística desenfreada que rodeia esta como tantas outras terras indígenas, na Amazónia como em outros lugares do planeta. Estas populações indígenas mantêm a floresta de pé. E o que mantém o seu espírito de pé? Multiplicidade, Contraforça, Dupla Cidadania, Junção de Opostos, Incandescência, Encantamento, Símbolo: palavras que são agora quase mantras, noções que vêm pululando os processos atravessados por Vera Mantero e os seus convidados desde 2021, desde a peça O Susto é um Mundo, passando por Um pequeno exercício de composição (2023) e mais recentemente por __ chãocéu | (2024). Trabalhos onde se criam fricções entre diferentes categorias, oscilações entre diferentes âmbitos, incandescências no cruzamento de diferentes esferas e domínios, e que nos colocam no limiar do inconsciente, permitindo-nos uma quase entrada no mundo dos sonhos. As figuras abstractas e os símbolos cruzam-se lado a lado com acções comuns do dia a dia, os corpos transmutam-se no cruzamento com os objectos e a palavra poética. É nestes cruzamentos e nestas contraforças que se ensaia a nossa capacidade de mudança, a tradução de uma energia destrutiva numa energia de abertura e despojamento, pontos fulcrais que continuarão a ser trabalhados em “C.C. (Crematística e Contraforça)”.