Fazer esta peça não foi uma ideia minha.Tratou-se de uma encomenda do ACARTE para a celebração do centenário do nascimento de Nijinsky. Acho que nunca teria feito um solo sobre Nijinsky se não surgisse esta encomenda. É bom fazer uma coisa que há partida nunca se faria. Foi também o primeiro solo que eu coreografei. Tive a sorte de o fazer enquanto estava a estudar em Nova Iorque, uma cidade onde nos sentimos felizes com toda a informação à nossa volta a que temos acesso. Percorri a vida de Vaslav Nijinsky, contente por conhecer mais profundamente uma personalidade tão fascinante. O que mais me impressionou: o papel que a sensualidade representava nele; o êxtase que provocava no público e em si próprio; a inevitabilidade da sua arte, tanto para a sua sobrevivência como para a sua aniquilação; o tipo de dança em que se formou e que dançou durante anos - o ballet - e a dança totalmente nova e oposta que criou com a sua coreografia; e finalmente a turbulência e a velocidade da sua vida, que o seu espírito não aguentou. Mas o solo não podia ser baseado apenas em Nijinsky porque era eu quem ia 'falar' sobre ele - eu também estava em cena. Então este é um retrato do meu retrato do retratado.
Vera Mantero
"Criadora dotada de uma invulgar sensibilidade e utilizadora de uma linguagem muito própria (...) é quando interpreta as suas obras que a dança de Vera Mantero nos surge em toda a sua verdade. A sua força em palco resulta de uma combinação única entre técnica corporal e contenção de movimentos, que se desenvolvem sobre um saber (...) indizível de manipulação de ritmo."
André Lepecki (excertos de texto no programa)