Com o fim da experiência da Comuna de Paris de 1871, momento com que escolhemos terminar o espectáculo anterior (como rebolar alegremente sobre um vazio Exterior, Alkantara Festival 2010), uma parte dos revolucionários foi deportada para um lugar paradoxal, a Nova Caledónia.
Paradisíaco e selvagem, o cruel novo território constituiria um lugar impossível para prosseguir o “projecto social” da Comuna, um lugar improvável para a implementação de um programa politicamente actuante ou relevante. Aí, e porventura contradizendo os seus ideais, os communards tiveram com os nativos caledónios uma relação praticamente inexistente, ou mesmo reactiva, nomeadamente aquando da insurreição canaque em 1878. Em 1880, após sucessivas démarches políticas (Clémenceau, Blanqui) e a demissão do presidente Mac-Mahon, foi-lhes finalmente concedida a amnistia. Praticamente todos os que sobreviveram a este degredo regressaram a França, muitos a Paris, cidade em compasso decidido rumo a uma Belle Époque.
Na esteira daquilo que nos motivou na obra anterior, projectámos para este segundo andamento um itinerário múltiplo sobre o fim dos projectos comunitários de pendor bélico e romântico que são as revoluções; sobre a influência do espaço geográfico na estrutura de uma ideia; a noção de paraíso terrestre ligada aos mares do Pacífico Sul, e as utopias criadas nessas latitudes; a convivência entre o anacrónico e o sincrónico. Chamámos a isto Nova, Caledónia.
André Guedes e Miguel Loureiro