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Pesquisa

Não se vê que sou eu mas é um retrato de Rita Natálio com a artista convidada Luciana Fina, 2011

Todo o século vinte e um é um trinta e um. “Não se vê que sou eu mas é um retrato” é uma ficção teatral e plástica a partir de encontros com portugueses entre os 9 e os 90 anos sobre as suas vidas e as suas noções de comunidade. A base fornecida por este conjunto de entrevistas é alterada, expandida e conectada por um trabalho de escrita de ficção e de encenação que contém simultaneamente o imaginário singular de cada participante e a sua diluição numa visão de conjunto.
De perto, cada indivíduo está sempre entre dois ou vários indivíduos, pertencendo a todos e a nenhum, sem no entanto pertencer-se. De longe, há a escrita que veste e despe personagens que nos vão falando das sedes deste século. Perguntamo-nos o que aconteceria se mais de 30 pessoas que não se conhecem à partida, ficassem presas numa sala e tivessem apenas uma hora para gerir as suas diferenças e encontrar forma de dali saírem. “Não se vê que sou eu mas é um retrato” é feito deste cruzamento caleidoscópico de testemunhos reais, utopias de vida em conjunto, desejos, ideias de comunidade, sedes e regras de mecânica inventada.
Durante o processo de criação da peça descobri como as narrativas – individuais ou colectivas – funcionam como automatismos que acontecem à revelia dos eventos e dos desejos. Mesmo na tentativa de composição mais fragmentária e des-síncrona desenha-se um atlas de sentido. Parece inevitável: tal como nas leis da matemática bastam dois pontos para formar uma linha, bastam dois eventos para edificar o princípio de uma história comum, bastam duas pessoas para formar uma ideia de comunidade. Procurei aceitar esta condição, aplicando à dramaturgia deste trabalho elementos que vejo acontecer no movimento das nuvens, pensando a ideia de comunidade e identidade como algo temporário, em movimento permanente e ininterrupto.

Rita Natálio

 

Em continuidade com o anterior “Nada do que dissemos até agora teve a ver comigo”, também ele construído a partir de depoimentos, Rita Natálio convida para este novo projecto Luciana Fina que colocará em diálogo o seu trabalho em torno do retrato fílmico.

Quodlibet ens não é 'o ser, qualquer ser',
mas 'o ser que, seja como for, não é indiferente'…
(Giorgio Agamben)


Encontrei as pessoas que contribuíram para o processo de pesquisa desta peça durante as residências de criação, no Fundão e, meses mais tarde, em Lisboa. Cada pessoa foi convidada a preparar-se para um retrato, a repensar a necessidade, a experiência, a ilusão, o tempo de um retrato. Alguns destes retratos acompanham-me num questionamento até ao palco. Memória, desejo e acontecimento, qual desses tempos conjuga o retrato? Fala ele no singular, ou no plural? O sujeito não quer aqui significar uma identidade determinada, pelo nome, pela pertença a um grupo ou classe social, ou pela genérica ausência de pertença, está aqui essencialmente a designar a singular condição de representar-se e ser representado, a conjugar um tempo de que nós, perante a sua representação, fazemos parte. Ele parece, tem ar de, deve ser... um ser 'qualquer', singularidade exposta. No espaço cénico, os retratos de figura inteira convivem sugerindo a inquietação de uma narração, activando a hipótese de uma comunidade, não constituída, mas possível.

Luciana Fina

Ficha técnica

Direcção artística
Rita Natálio

Artista convidada – criação instalação cénica
Luciana Fina

Performers
Cláudio da Silva, Carla Bolito, Nuno Lucas

Participação especial
Stanislaw Talejko

Texto original
Rita Natálio e escrita colectiva de Carla Bolito, Cláudio da Silva e Nuno Lucas

Desenho de luz
Carlos Ramos

Desenho de som
Rui Dâmaso e Pedro Costa

Música original
Ana Gandum, letra de Miguel Coelho

Consultoria artística
Sofia Dias

Produção
O Rumo do Fumo

Co-produção
O Rumo do Fumo, Festival Escritas na Paisagem, Município do Fundão/ A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes, Fundação Caixa Geral de Depósitos - Culturgest e Festival Temps d’Images

Residências Artísticas
A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes, Fundão, Alkantara e O Rumo do Fumo

Parcerias
Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-ISCTE)

Agradecimentos
Andrea Sozzi, João Ribeiro, Luísa Veloso, Magda Bull, Sofia Dias e Vera Mantero

Agradecimento especial a todas as pessoas que participaram no processo de criação desta peça:
 
em Lisboa:
Alberto Pimenta, Aissato Dajaló Baldé, Ana Hatherly, Andresa Soares, Carlos Natálio, Carlos Gomes, Gonçalo Pereira, Luísa Veloso, Lígia Soares, Sofia Dias, Stanislaw Talejko, Vítor Roriz
 
no Fundão:
Ângela Duarte, Amanda Guapo, Bruno Fonseca, Carlota Madeira Inês, David Josué Oliveira, Daniela Carvalho, Francisco Tavares, Fábio, Ivan, José Lopes Correia, Joaquim Caldeira, Jerónimo Mateus, Maria da Lurdes Brito, Maria Anunciação Amaral, Maria Tavares

Cronologia

Estreia - 23 - 24 de Novembro 2011, Culturgest/Festival Temps d’Images, Lisboa/Portugal

© Inês Abreu e Silva
© Inês Abreu e Silva
© Inês Abreu e Silva
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© Inês Abreu e Silva
© Inês Abreu e Silva
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