“ Neste momento estou com a sensação de que é preciso estar calado! Percebes? É preciso estar muito calado e muito quieto para se conseguir fazer um gesto de jeito ou para se dizer uma palavra de jeito...Há muito ruído...Esse silêncio, essa sensação de não haver nada, é muito importante, há uma grande exposição numa pessoa que vem assim de mãos vazias ter contigo, vem com nada. Parece-me que essa sensação de vazio se confunde algures com a sensação de plenitude”. *
A existência da dança é algo de praticamente impossível. É o que tenho vindo a constatar e que não consigo deixar de constatar. (Mas que tenho a esperança de vir a deixar de constatar um dia.) Por enquanto é assim. Quanto mais se dança mais se percebe que é impossível dançar. Mas isso é bom, porque quanto mais se pensar que a dança é possível mais impossível é a dança que se cria.
Outra questão que não me larga é a de saber se a dança é uma coisa que se possa pôr em cima de um palco. Mesmo que eu não queira: mal se trata de encenar uma dança (pôr uma dança em cena) não há maneira de ela não ficar contaminada por esta questão. Danças contaminadas. Além de que a existência do próprio palco me parece também de questionar, aquele deserto esquisito e cúbico para o qual uma data de gente fica a olhar. Pisar um deserto assistido.
Para além disto, a existência é uma estranha situação.
Não somos bonzinhos, temos estranhos funcionamentos.
Há muitas mais coisas pelo planeta fora. Imensas coisas. Perceber o que se encontra sob a sua aparência, encontrar algo parecido com uma ordem nelas é uma tarefa mais ou menos hercúlea.
Vera Mantero, 1993
* entrevista a André Lepecki no jornal Blitz, 28.04.92
Ficha Artística
Direcção
Vera Mantero
Interpretação e co-criação
Lília Mestre, Paulo Henrique, Sílvia Real, Vera Mantero
Música original
Sérgio Pelágio
Cenário e figurinos
Teresa Montalvão
Luz
Paulo Graça
Adaptação e operação de luz
João Paulo Xavier
Produção executiva
Forum Dança / NAC
Direcção técnica
João Paulo Xavier
Co-produção
Tejo Trust, (Springdance, Holanda, Klapstuk, Bélgica, Forum Dança, Portugal) e La Ferme du Boisson (Centre d’Art et de Culture de Marne-la-Vallée, França)
Patrocínios
Secretaria de Estado da Cultura, Portugal
Apoios
Culturgest / Grupo Caixa Geral de Depósitos, Lisboa / Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa / Teatro Nacional de São Carlos, Lisboa / Companhia de Dança de Lisboa, Lisboa
Agradecimentos
RE.AL – João Fiadeiro
Duração
60 min
Cronologia
Janeiro 2000, Centre Développement Chorégraphique, Toulouse/França
Março 1999, Mês de Março, Mês de Vera, Culturgest, Lisboa/Portugal (Margarida Mestre participou neste espectáculo em substituição de Lília Mestre)
8 Julho 1994, Fest. Danças na Cidade, Lisboa/Portugal
7 Maio 1994, La Ferme du Buisson, Marne-la-Valée/França
1994, Dance Theater Workshop, Nova -Iorque/E.U.A.
22 - 23 Abril 1994, Die Werkstatt, Dusseldorf/ Alemanha
Abril 1994, Bienal Internacional de Charleroi-Danses, Charleroi/Bélgica
13 - 15 Abril 1994, Kunstlerhaus Mousonturm, Frankfurt/Alemanha
3 - 4 Fevereiro 1994, Festival New Moves, Glasgow/Escócia, Grã-Bretanha
29 Janeiro 1994, Plataforma dos Encontros Coreo. de Bagnolet, Lisboa/Portugal
12 Novembro 1993, 2ª jornadas de arte contemporânea,Teatro Rivoli, Porto/Portugal
5 Novembro 1993, Cultureel Centrum Berchem, Antuérpia/Bélgica
21 - 23 Outubro 1993, Festival Klapstuk, Leuven/Bélgica
15 - 16 Outubro 1993, Culturgest, Lisboa/Portugal