© Tuna

Em Circulação > O Limpo e o Sujo de Vera Mantero, 2016

O Limpo e o Sujo

de Vera Mantero, 2016

Na realidade a vida não é uma coisa limpa. Reconhecer isso seria meio caminho andado para a tornar menos suja, ou seja, para a possibilidade de nos tornarmos mais felizes.
Ana Cristina Leonardo
 
 
 
Em O Limpo e o Sujo há corpos educados e há corpos deseducados.
Há sobretudo um alegre chafurdar na fusão entre estas duas espécies de corpos, e na profusão que essa fusão produz. Fusão que parece fazer surgir um lugar particular, o lugar favorito, o lugar preciso (lugar necessário e lugar de precisão).
 
[EMPURRAR, INSISTIR, ARRANCAR, ESPREMER, EXPURGAR, EXPELIR, INSISTIR, ESTICAR, EXPOR, INSISTIR, ABRIR, APERTAR, PRESSIONAR, ESMIGALHAR, ABRIR, RETER, ESFREGAR, INSISTIR, APONTAR, VARRER, ABRIR].
 
Acho que a única vida é mesmo a do Manuseamento dos Materiais do Mundo (e nós seres humanos também somos mundo). Manusear objectos, imagens, palavras, movimentos, intensidades. Manusear espaços, tempos, afectos, desejos, vibrações. Manusear fantasmas. Limparmo-nos nesse manuseio. Sujarmo-nos nesse manuseio. Manuseio em associações várias, em intersecções e acoplagens, manuseio activado em acções, corporizações, encarnações (atravessadas em espaços e tempos). A vida de uma linguagem outra. Linguagem verbal-menos ou, mesmo que verbal-mais, pelo menos não-linear. Atravessamentos não-lineares. Lugar de abertura e possibilidade, único lugar de intensidades, vibrações e outragens. É aí que vejo riqueza, é aí que vejo densidade, é aí que vejo material de vida, é aí que vejo alimento, é aí que vejo sentido. Única coisa a fazer, única coisa possível de fazer, única coisa que parece valer a pena fazer.
 
[QUE VEM DE DENTRO E LIMPA, QUE VEM DE DENTRO E SUJA, QUE VEM DE DENTRO E LIMPA, QUE VEM DE DENTRO E SUJA, QUE VEM DE DENTRO E LIMPA]
 
Às tantas dei-me conta de que aquilo que se faz na Transição Interior, para trabalhar subjectividades e tentar mitigar tendências nocivas, é muito parecido com aquilo que se faz na arte, e particularmente nas artes performativas. Estas artes e o trabalho para a Transição são aparentados. Práticas de cuidado de si, práticas de cuidado de nós. Práticas específicas para reinventar maneiras de ser. Ferramentas de trabalho sobre nós, ferramentas de equilíbrios vários, de ecologias várias, pessoais e sociais. Gosto de pensar na arte enquanto Ferramenta de Transição (transitar para fora ostentação e da imposição de poder, por exemplo).
 
[ENTRE CIMA E BAIXO, DO CHÃO À TESTA, DO TECTO À BOCA, A MÃO NO TUBO DO CENTRO DO CORPO]
 
Ao invés de accionar incansavelmente procedimentos de censura e de contenção, em nome de grandes princípios morais, melhor conviria promover uma verdadeira ecologia do fantasma, que tivesse como objecto transferências, translações e reconversões das matérias de expressão. (1)
 
[UM CORPO ATRAVESSADO POR ELECTRICIDADE. CHOQUE ELÉCTRICO]
 
O que é que faz com que uma pessoa tenha vontade de viver? O que é que estamos a fazer aqui na vida? O que é uma vida bem vivida? O que é que nos faz vibrar? O que é que cria desejo em nós? O que é que produz vitalidade? O que é que devemos lembrar, celebrar, assinalar, nomear?
Há um lugar significativo para o corpo nestas questões, sendo o lugar que providencia a activação dos sentidos e que providencia o pensamento, e que intensifica as relações com tudo o que está à nossa volta. Tudo isto tem a ver com energia, movimento, intensidade e desejo, e isso é o que cria sentido na vida. (2)

Vera Mantero
 

(1) Guattari, Felix, As Três Ecologias (1989), tradução Maria Cristina F. Bittencourt, Campinas: Papirus, 2001, disponível em http://escolanomade.org/wp-content/downloads/guattari-as-tres-ecologias.pdf
(2) Mantero, Vera, A body made of bones (science) and blood (art), em Cláudia Galhós (orgs.) There is nothing that is beyond our imagination, Torres Vedras: ArtinSite / Imagine 2020, 2015, pp. 176-177.

Ficha Artística

Direcção Artística
Vera Mantero
 
Co-criação
Elizabete Francisca, Vera Mantero, Volmir Cordeiro
 
Interpretação
Elizabete Francisca, Francisco Rolo & Vera Mantero
 
Música ao Vivo
João Bento
 
Espaço Cénico e Figurinos
João Ferro Martins
 
Desenho de Luz
Eduardo Abdala
 
Ensaiadora
Carolina Campos
 
Produção
O Rumo do Fumo
 
Co-produção
Maria Matos Teatro Municipal; Teatro Municipal do Porto; LE CND, un centre d’art pour la danse; Musée de la danse - Centre chorégraphique national de Rennes et de Bretagne
 
Residência Artística
Materiais Diversos
 
Apoios
Instituto de Emprego e Formação Profissional, IP / Estágios Emprego; Câmara Municipal de Lisboa / Polo Cultural Gaivotas | Boavista; EGEAC; Culturgest
 
Agradecimentos
Carolina Campos, Vítor Roriz
 
Co-financiado pela rede Imagine 2020 com o apoio do Programa Europa Criativa da União Europeia.

Cronologia

29 Abril 2022, Cineateatro Louletano, Loulé/Portugal
13 Abril 2022, Grande Auditório, Culturgest, Lisboa/Portugal
28 - 29 Novembro 2019, Grande Auditório, Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos, Lisboa/Portugal
2 Fevereiro 2018, Festival GUIdance, Pequeno Auditório, Centro Cultural de Vila Flor, Guimarães/Portugal
4 Maio 2017, Chantiers d'Europe/Théatre de da Ville, Théâtre des Abbesses, Paris/França
23 - 24 Novembro 2016, Kaaitheater, Bruxelas/Bélgica
16 Novembro 2016, mostra de dança contemporânea New Age New Time, Teatro Viriato, Viseu/Portugal
11 - 12 Novembro 2016, Teatro Campo Alegre, Porto/Portugal
Estreia 1 - 3 Abril 2016, ciclo As 3 Ecologias, Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa/Portugal

Imprensa

Cláudia Galhós
 
Paula Varanda
 
Cláudia Galhós
 
Maria João Guardão
 
Gonçalo Frota
 
Daniel Tércio
 
Estelle Spoto