Um show de variedades ou um musical são exemplos de formatos artísticos com bastante impacto no imaginário cultural ocidental. Estão normalmente enquadrados na categoria do “entertainment”, fruto de uma certa herança cultural, para não dizer política, que reflecte uma estruturação ideológica da ocupação e divisão do tempo (o tempo do entretenimento/o tempo do trabalho; o tempo do prazer/o tempo da obrigação). O entretenimento é, segundo este ponto de vista, a parte “boa” da equação, uma espécie de pílula da felicidade que podemos tomar para atenuar as obrigações e os males da vida.
A exploração comercial de um espectáculo também me pareceu um bom ponto de partida para questionar o outro lado da máquina de ilusão, revelando a sua força assim como as suas fissuras e fragilidades.
Este projecto nasceu há cerca de 4 anos quando recebi um convite para fazer uma peça em Inglaterra. Nessa altura estávamos em plena crise financeira, antes do Brexit acontecer. Numa pesquisa inicial descobri uma canção com o título “Happy Days Are Here Again” (os dias felizes estão de volta outra vez) que se tornou numa espécie de pano de fundo do nosso trabalho. A canção foi criada em 1929 por Milton Ager e apareceu no filme de Charles Reisner “Chasing Rainbows” de 1930, exactamente no período da Grande Depressão na América, e tornou-se um símbolo da esperança que, apesar de tudo, era necessária para acreditar que alguma coisa ainda era possível. Naquele momento tal como agora.
Miguel Pereira
Ficha Artística
Cronologia
10 Maio 2018, Festival DDD – Dias da Dança, Palácio do Bolhão, Porto/Portugal
Estreia 22 - 25 Novembro 2017, Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa/Portugal