© Cláudia Mateus

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Op.49

de Miguel Pereira, 2012

Sempre me deparei ao longo do meu percurso artístico com uma inevitável contradição: o meu tempo de gestação e criação — um tempo ora dilatado ora entrecortado, imprevisível, alimentado por desejos, por impulsos, pela não linearidade e até pela indisciplina — entra em constante colisão com o tempo instituído, um tempo demasiado regulado e repetitivo.

Ao longo de três anos dediquei-me a refletir, experimentar e conhecer o mundo do espetáculo amador. E daqueles que nos tempos livres se dedicam à prática artística. Os que por não terem a obrigação de construir um estatuto que os legitime na esfera do trabalho se deixam apenas levar pelo prazer que sentem naquilo que fazem. A dança, o teatro ou o espetáculo sempre foram para mim o pretexto para encontrar esse espaço de liberdade e de prazer, de encontrar esse lugar de “tempo livre” onde seja possível refletir, digerir ou transformar o mundo e a realidade. E é nesse tempo “livre” que me coloco, que o espetáculo, o acontecimento que eu faça, possa acontecer nesse limbo “entre” o acabado e o inacabado, o possível e o impossível, o controlado e o libertador.

ALGUMAS NOTAS SOBRE OP. 49
Esta peça foi inspirada na história de Nicola Carter e na sua relação com a dança e a música. Partindo da interacção música/som e corpo/espaço, interessou-nos explorar cenicamente as diferentes vertentes e qualidades desta relação. Da natureza do som explorámos, por um lado, o seu carácter abstrato e não descritivo, permitindo-nos alterações ao nível da percepção e à criação de imaginários, deixando um
espaço aberto para leituras, interpretações e divagações várias, e por outro, ao trabalho sobre a sensação e as relações de memória que estabelecemos com as diferentes fontes sonoras e o espaço físico. Procurámos aquilo que de mais concreto exista no som e nas possibilidades da sua activação através do corpo e do espaço.

SOBRE NICOLA CARTER
Nicola Carter é uma inglesa de 48 anos que conheci em Nottingham durante a pesquisa que fiz sobre artistas amadores. O que me estimulou na sua história foi a peculiaridade e originalidade do seu percurso. Nicola viveu intensamente um período histórico e político conturbado na Inglaterra dos anos 80, mais precisamente em Manchester, atravessado pelo boom do clubbing (as raves e as discotecas), que se tornava assim uma resposta aos tempos difíceis que então se viviam, com os tumultos, as greves, os protestos e o futuro incerto que aquela época preconizava. A relação que Nicola estabeleceu posteriormente com a dança e as artes em geral foi marcada por essa experiência, determinante para a forma como desenvolveu a sua prática artística, prática essa que a tem acompanhado até hoje, fazendo pontualmente as suas próprias performances e instalações.

Ficha Artística

Direcção e concepção
Miguel Pereira

Assistência à direcção artística
Dinis Machado

Colaboração artística e participação especial
Nicola Carter

Interpretação
Miguel Pereira

Sonoplastia
Jari Marjamäki

Desenho de luz
Dinis Machado

Figuração
a definir

Co-produtores
Maria Matos Teatro Municipal (Lisboa), Dance 4 (Nottingham)

Residências artísticas
Dance 4 (Nottingham), Cine Teatro São Pedro (Alcanena)

Apoio
Forum Dança

Produção
O Rumo do Fumo

Agradecimentos
Ana Pais, André Guedes, Luísa Veloso, Vera Mantero e alunos do curso PEPCC do Forum Dança

Este projecto foi financiado pela Fundação Calouste de Gulbenkian.

Cronologia

12 Março 2013, Nottdance Festival, Nottingham/Reino Unido
23 Abril 2012, Teatro Maria Matos, Lisboa/Portugal
Estreia - 21 Abril 2012, Teatro Maria Matos, Lisboa/Portugal