Miguel Meets Karima é uma peça para um só intérprete. Em palco, só está Miguel Pereira, mas o público só vê Karima Mansour, coreógrafa egípcia. Conheceram-se numa residência em Itália, fizeram uma pequena performance e receberam várias propostas para desenvolverem um trabalho juntos. Durante um ano, viajaram por três continentes em residências e trabalhos preparatórios, até que duas semanas antes da estreia, no festival de Alkantara, depois de muitas diferenças e incompreensões, zangaram-se de vez e decidiram fazer cada um a sua peça. Miguel Meets Karima é a história desses encontros e desencontros, de muito daquilo que os juntou e veio depois a separá-los. Um relato detalhado não só da sua relação a dois, como dos meandros das artes e da obsessão dos programadores em gerarem parcerias que explorem os jogos de cumplicidade e contraste entre duas criatividades, duas culturas, dois géneros.
Olá Karima,
Desculpa não ter escrito mais cedo, mas tenho andado muito atarefado com todas estas viagens e trabalhos tão próximos. Tenho pensado muito na nossa colaboração e na forma como as coisas acabaram no Rio – para mim pelo menos – e fiquei com uma sensação estranha. Na verdade, apercebi-me de que a nossa colaboração não é definitivamente um problema cultural, mas sim pessoal, daí a minha dificuldade em lidar contigo enquanto pessoa e não com a tua cultura. E não é um caso de medo ou de desistência. Normalmente até gosto de desafios, mas não acho saudável castigarmo-nos (pelo menos eu). À medida que a nossa colaboração se foi desenvolvendo com um forte factor psicológico, “como um casamento” – e isto não é uma crítica – para mim torna-se impossível separar este ponto do nosso processo criativo. Sinto que não quero continuar este nosso processo com base nesse pressuposto. Mas não tenho solução para isso. Então, se tiveres alguma ideia, diz-me qualquer coisa por favor. Senão é melhor admitirmos que a nossa colaboração não funciona e que é melhor parar e continuarmos com os nossos próprios projectos. Peço desculpa por ser tão frontal. Gostava que tudo tivesse sido diferente, mas não posso mudar o que se passou. Espero que tudo esteja bem contigo e aguardo notícias tuas brevemente.
Beijo, Miguel.
Ficha Artística
Miguel Pereira
Colaboração Dramatúrgica
Roger Bernat e Rui Catalão
Execução Figurino
Mónica Bertran
Produção Executiva
O Rumo do Fumo (Lisboa), Alkantara (Lisboa) e Panorama Rio Dança (Rio de Janeiro)
Co-produção
Festival Alkantara 2006, Panorama Rio Dança, O Rumo do Fumo, Festival Mapa / Cel.lula Sant Mori, Jangada de Pedra, Galeria ZDB
Residência Artística
CENTA - Centro de Estudos de Novas Tendências Artísticas, Cel.lula Sant Mori, Negócio/ZDB
European Cultural Foundation, Telemar (Brasil)