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Let's talk about it now

documentário de Margarida Ferreira de Almeida, 1999

Baseado e inspirado nas coreografias de Vera Mantero sendo Vera a principal protagonista.

Construído de uma forma tão paradoxal quanto bizarra, atropelo de práticas e linguagens: Filme? Documentário? Ensaio? O Objecto deste trabalho é a dança que diz ? o que se move ? é Vera Mantero coreógrafa e bailarina, quando a convite da Culturgest apresentou em Março de 1999 a retrospectiva da sua obra. Foi então que Vera e Margarida se encontraram, daí resultou este vídeo, criado imaginado e sentido a partir de uma grande curiosidade, cumplicidade e aproximação ao universo de Vera enquanto “pessoa”, coreógrafa e bailarina. O corpo e o lugar do corpo. Na dança das imagens, nas imagens da dança ambas à procura de uma nova energia.

Num corpo que se sente, hoje cada vez mais fragmentado.

Baseado e inspirado nas coreografias de Vera Mantero sendo Vera a principal protagonista.

Ficha Artística

Realização 
Margarida Ferreira de Almeida
 
Imagem e Som
Margarida Ferreira de Almeida

Montagem
Marcelo Félix

Misturas
Nuno Carvalho

Apoios
Culturgest, Ministério da Cultura, IPAE

Cronologia

21 e 24 Novembro 2017, festival KINANI, Centro Cultural Português, Maputo/Moçambique

25 Fevereiro 2017, ciclo Nova\Velha Dança/Associação Parasita, Teatro Sá da Bandeira, Santarém/Portugal

11 Abril 2000, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, Lisboa/Portugal

27 Janeiro 2000, Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos, Lisboa/Portugal

Estreia - 1999, Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos, Lisboa/Portugal

Imprensa

“Numa ocasião de reapresentação e revisão dos seus trabalhos, em Março de 1999 na Culturgest, Vera Mantero, uma das figuras mais destacadas da dança em Portugal, foi seguida pela câmara de Margarida Ferreira de Almeida. Uma olhou e questionou, a outra falou e deu-se a ver. É "Let's talk about it now" (...).

Talvez se pudesse antes chamar "Let's see about Vera". Mas não, o título é "Let's talk about it now", e é o olhar de Margarida Ferreira de Almeida sobre Vera Mantero, imediatamente antes e durante a retrospectiva "Março, Mês de Vera", que a Culturgest organizou (...). A tão inédita proposta de programação correspondeu também uma iniciativa sem precedentes: a própria Culturgest aventurou-se à produção deste documento, aí já apresentado num ciclo de cinema e artes, e agora exibido na Cinemateca. O objecto é paradoxal como paradoxal e mesmo contraditório era o momento de Vera Mantero. Através de "Let's talk about it now", ela passa a ser imagem, mas se "tudo é imagem", então "o que quer dizer a imagem? Pode não ser nada" - são interrogações de Vera logo na abertura do filme. Mas se a interrogação foi enunciada, e nos seus fundamentos terá mesmo permanecido, é evidente que, no concreto, ela foi superada pela relação de confiança que se estabeleceu entre Vera Mantero e Margarida Ferreira de Almeida. Com a sua câmara, a realizadora "colou-se" à coreógrafa e bailarina e fez um retrato de corpo inteiro. E, no entanto, Vera, sendo muito vista (ocupa quase toda a 1 hora de duração) fica apenas entrevista. Não é um limite do filme, antes deriva da justeza do olhar. É que Vera Mantero, e as reflexões que o seu trabalho suscita (e lhe suscita), é uma criadora que fascina mas também suscita muitas perplexidades. Ela dança, mas diz que na dança o que a atrai é "a impossibilidade": "a dança não me é óbvia, não faz sentido nenhum levantar-me e andar para aí aos pulos". Então como tornar a dança possível? Criando-a, pensando-a, sentindo-a. O núcleo da questão está em como Vera se põe "a pensar o corpo". Se ela diz que "estamos sobrecarregados de pensamento e temos um défice de movimento", é também patente (e é-o tanto mais quanto o filme é também o registo de um método de trabalho) que, não obstante, ela quer mesmo "pensar o corpo". Para quem foi seguindo o trabalho de Vera Mantero ao longo dos anos, para quem o pode rever na proposta da Culturgest, há interrogações que o filme ainda mais vem reforçar. Para balizar o percurso, cabe recordar como este corpo se manifestou, admiravelmente, nos solos de "Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois" (91), "Sob" (93), "Uma misteriosa coisa, disse e.e. cummings" (95) e "Olímpia" (95). Com o trabalho em colectivo surgiram outras necessidades de comunicar e pensar (e será que é cada vez mais "pensar" antes da dança?), que já se manifestavam em "A queda de um ego" (97) e se condensaram em "Poesia e selvajaria" (98), com a irrupção da necessidade de verbalizar e com uma parafernália de elementos que, se calhar, suscitaram "um défice de movimento". Será um impasse criativo, como o confirmaria o adiamento do anunciado "Something greater than fear"? É possível - é a minha opinião de espectador. Mas mesmo assim, isso não suscita um défice de interesse de "Let's talk about it now": Vera Mantero queria falar, Margarida Ferreira de Almeida foi a sua cúmplice (e em parte entrevistadora, ou antes, despoletadora do discurso) e as questões que ficam entrevistas são matérias para "pensar" - porque o filme foi feito "a pensar com" Vera Mantero. (…) “

Seabra, Augusto M., “Vera entrevista”, Público, 11.04.2000

in www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/vera-entrevista