Durante a minha colaboração com Karima Mansour, entre Setembro de 2004 e Junho de 2006, tive a oportunidade de visitar pela primeira vez o Cairo.
Em Outubro de 2006 fui convidado a participar nos Encontros de Dança de Artistas da África Oriental, no Quénia, onde tive oportunidade de expor a minha experiência de intercâmbio artístico com um artista de uma outra cultura. Em Nairobi e já a meio de África, apercebi-me que desde o Cairo, fazia uma linha descendente em direcção ao local onde tinha nascido, Lourenço Marques.
“Teria onze anos, a independência estaria iminente, era um início de tarde cheio de sol, muito quente, impregnado de expectativas. Debaixo de um alpendre, na terra batida, aguardávamos a entrada em cena. O público cá fora chegava, reunia-se e pouco a pouco deslocava-se para dentro do pavilhão. Eu e os outros meninos, envergávamos a capulana*colorida, enrolada na cintura, em tronco nu e pés descalços. Foi então que entrámos no palco improvisado e nervosos executámos os passos, ao mesmo tempo que cantávamos “ ha motiva tsava tsava eh oui a gandzaia dô ma eu eh oui há motiva Caetano eh oui ha gandzaia Salazar.”
*capulana era o nome dado ao tecido tradicional africano que se usava – ou usa – em Moçambique.
A revolução dos cravos em Portugal aconteceu em 25 de Abril de 1974. Moçambique tornou-se independente em Julho de 1975. Lourenço Marques passou a chamar-se Maputo. Eu vim a 31 de Março de 1976. Nunca mais regressei até Agosto de 2007.
Miguel Pereira
Ficha Artística
Miguel Pereira
Interpretação
Bernardo Fernando (PAK) e Miguel Pereira
Manipulação de Som e Música ao Vivo
Jari Marjamäki
Desenho de Som e Pesquisa Musical
Sérgio Cruz
Desenho de Luz